OBRAS        BIOGRAFIA        TEXTOS        EXPOSIÇÕES        NOTÍCIAS        CONTATO        (home)
Juliana Monachesi | O Pulso da Pintura Contemporânea | 2006
11/04/2006

I swear I’ll give it back tomorrow but
for now I think that I’ll just borrow
All the chords from that song
And all the words from
that other song
I heard yesterday

[The Strokes, “Electricityscape”]

As pinturas de Henrique Oliveira têm um paralelo musical nas canções dos Strokes: ambas desviam das regras da tradição sem ironia pós-moderna, antes, utilizando as ferramentas e parâmetros da própria tradição; elas não se acomodam aos padrões de funcionamento de suas respectivas linguagens (pintura e rock music) e esta ruptura se evidencia principalmente nas passagens abruptas que ambas realizam. Uma música dos Strokes começa e termina sem preâmbulos nem encerramentos. As pinturas de Oliveira também.

Outros paralelos possíveis com os Strokes: apesar de ser uma banda de rock, eles conseguem ser uma banda pop ao mesmo tempo, assim como as pinturas de Henrique Oliveira estão lastreadas em referências históricas da arte do século 20, mas contêm influências da cultura de massa. Os Strokes apropriam-se do que há de melhor na tradição do rock e o fazem soar atual, tanto quanto Oliveira faz uso das soluções formais mais bem-sucedidas de diferentes momentos da abstração, atualizando-as.

“Pensando na pintura gestual feita no século 20, é como se procedimentos como pinceladas, escorridos, velaturas, pudessem ser descontextualizados da história, separados, catalogados e então recondicionados na busca de uma outra ordem pictórica. De uma ordem que embora se reconheça como apenas mais uma possibilidade, consiga se emancipar dos jargões que constituem seus próprios alicerces”, explica o artista em texto analítico sobre seu trabalho.

Fundamentada neste pensamento, a pintura de Henrique Oliveira seria quase uma colagem, uma vez que as camadas sobrepostas não têm comunicação ou continuidade entre si. Mas, diferente de um Caetano de Almeida, que sobrepõe abstração geométrica a abstração informal para criar um pastiche pós-moderno; diferente também de uma Beatriz Milhazes, que acumula camadas de signos sem nem tocar no pincel, produzindo um comentário sobre o barroco ou sobre o decorativo, a pintura de Oliveira é feita de pinceladas, raspagens, empoçamentos, gotejamentos e escorridos.

Que tipo de colagem é esta que o artista faz, tão distante dos procedimentos de colagem de Caetano de Almeida e de Beatriz Milhazes? As músicas dos Strokes podem dar uma pista: elas são colagens, como os próprios confessam na letra da música “Electricityscape” –no novo álbum, “First impressions of earth” (2006)–, de acordes desta música e palavras daquela outra, emprestados num dia e devolvidos no outro. Oliveira empresta daqui e dali, devolve tudo “recondicionado”, mas ainda apostando na pintura, na “fruição de sua materialidade” e nas “possibilidades construtivas inerentes a seu meio”, segundo o artista. Para ele, a pintura pode ser considerada uma área de suspensão de certo determinismo midiático em nossa percepção da realidade, um espaço –enfim– onde pode ocorrer “uma fenda na interpretação do mundo”, ousa o pintor.

MONACHESI, Juliana: “O Pulso da Pintura Atual”.
Bien’Art. Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo, n. 18, p. 51, abril 2006.

Henrique Oliveira - © Copyright - Web Master Maurício Lima